domingo, 30 de abril de 2017

Onze jornadeiros, cinco guias e um jeguinho


Foi uma Jornada histórica. Não foi a primeira vez que acampamos, mas foi o acampamento mais radical que já fizemos. Não foi a primeira vez que fizemos trilhas difíceis, mas esta foi a mais difícil de todas. Não foi a primeira vez que visitamos cachoeiras, mas estas foram as mais belas que já conhecemos. Não foi a primeira vez que caminhamos natureza adentro, mas esta foi uma das mais caminhadas mais inspiradoras que já fizemos. Finalmente, não foi a primeira vez que tivemos experiências intensas, mas esta certamente foi a mais intensa de todas.

Tudo começou por volta das 10:30h da manhã do dia 21, quando embarcamos no micro-ônibus alugado em direção à Pindobaçu. Chegamos lá por volta do meio-dia, almoçamos em um restaurante de beira de estrada e depois retornamos alguns quilômetros até o acesso ao povoado de Lutanda. Lá, descarregamos a nossa pesada bagagem em frente à pequena igreja e aguardamos pelo jegue que iria levar tudo - ou pelo menos grande parte - morro acima. Não foi bem assim que as coisas aconteceram, e resultado é que muitos de nós tivemos que castigar o próprio lombo numa subida prá lá de difícil e cansativa. Iniciamos a caminhada, animados, por volta das 15:20h, em meio à uma paisagem formada por campos verdes e grandes árvores. Atravessamos o rio Fumaça, abastecemos os cantis com água potável e seguimos até mais ou menos a metade do percurso, onde paramos para descansar, fazer um lanche e beber água. O caminho até ali era plano, então o cansaço era só por conta do peso que carregávamos mesmo.

A partir desde ponto, no entanto, as coisas mudaram completamente de figura. Tivemos que vencer uma subida de 380 metros em apenas 2,5Km, em uma trilha forrada de pedras soltas e muito peso nas costas. Ao mesmo tempo, seguíamos por uma trilha belíssima, que margeava desfiladeiros que nos abriam a vista para o horizonte. Não tardou, no entanto, para a noite chegar e a caminhada prosseguir com as lanternas (que todos tiveram a preocupação de adquirir previamente) acesas. Na parada seguinte (do riacho), já de noite, precisamos nos alongar pois o jornadeiro Antonio sentiu forte dores nas pernas e não conseguia se mover. Depois de cerca de uma hora na expectativa, resolvemos dividir o grupo: uma parte continuaria a subida e a parte outra ficaria com o Antonio até ele melhorar. E assim foi: enfrentamos uma subida miserável, juntando todos os fôlegos para dar cada passo e tentar chegar no paraíso. Ajuda daqui, ajuda dali, tombo prá cá, tombo pra lá, puxa, empurra e conseguimos alcançar o topo da Serra da Fumaça por volta das 21:00h. No meio da escuridão, era a hora de montar barracas, comer alguma coisa e... tomar banho de água geladíssima do riacho próximo. O outro grupo subiu mais lentamente e chegou no topo por volta da meia-noite, mas felizmente são-e-salvo e sem maiores problemas. Nesse meio tempo, a comunicação via rádio era utilizada para atualizar as notícias dos dois lados.

 A primeira noite foi praticamente um colapso geral, em função do cansaço do grupo. No dia seguinte, acordamos cedo em meio à neblina densa, tomamos café e saímos em caminhada por alguns quilômetros, também entre declives e aclives consideráveis, para conhecer mirantes, quedas d'água e as cachoeiras das Sete Quedas e da Fumaça. Visitamos lugares fantásticos, tomamos banhos de cachoeira incríveis e não nos cansamos de admirar tanta beleza de rios, riachos, matas,  quedas, vales e desfiladeiros. Foi um dia intenso, mas dessa vez chegamos cedo em casa: ainda era dia (por volta das 17:00h) quando regressamos ao acampamento. Hora, então, de sair correndo para o banho no riacho, que prometia ser melhor à luz do dia do que na escuridão da noite como no dia anterior. Logo em seguida, hora de acender a fogueira e os fogareiros, preparar o merecido jantar e levar aquele papo animado até de madrugada. Tudo isso, naturalmente, intercalado com muitas fotografias noturnas do lugar.

 Terceiro dia, domingo de manhã, dia de desmontar tudo, carregar o jegue novamente e iniciar a descida. Foi uma operação longa, e quase que as coisas não cabiam mais nas cestas do pobre jeguinho. Resolvidas estas questões, nos equipamos para a descida, não sem antes fazer uma parada na extremidade do topo onde estão localizadas uma pequena igreja e um cruzeiro. Depois, foi só ladeira abaixo: muito cuidado para não escorregar, muito cuidado com o excesso de peso, muito cuidado com os colegas da frente e assim por diante. Apesar de tudo, foi um caminho de volta mais tranquilo do que o de ida. Mesmo assim, fizemos uma parada estratégica no mesmo riacho da subida, porém desta vez durante o dia. Então, pudemos nos banhar nas suas águas, relaxar nas suas grandes rochas, descansar nas suas sombras, jogar conversa fora, encher os cantis e repor as energias antes de seguir em frente. E assim foi... uma caminhada longa, debaixo do sol forte e com algumas outras paradas para cuidar dos machucados, beber água e descansar. Eram por volta de 15:40h quando finalmente avistamos o nosso micro-ônibus nos esperando no final da trilha, como quem vê um pequeno oásis depois de uma longa caminhada no deserto. Bagagens colocadas no bagageiro, não havia outro lugar para se ir a não ser o pequeno bar da vila, que viu o seu estoque de cervejas geladas se esgotar rapidamente.

 Deixamos a vila por volta das 17:00h e fizemos uma única parada num posto de gasolina em Senhor do Bonfim para fazer um lanche. Todos destruídos, estropiados, descalços, imundos dos pés à cabeça. Como disse alguém, parecíamos um grupo de borracheiros depois de um dia de muito trabalho. No restante do caminho dormimos e só despertamos quando chegamos em Petrolina, por volta das 19:00h. Uma vez em casa, a noite foi para curtir os pequenos prazeres da vida cotidiana: tomar um banho quente e matar saudades da cama macia. Coisas que, ao que tudo indica, continuaram sendo muito apreciadas pelos dias seguintes também.

 Mais um capítulo foi escrito, e que capítulo. Foram três dias de uma convivência super animada e de muita solidariedade. Uma experiência inesquecível num lugar mágico. Foram momentos que ficarão marcados para sempre na vida de todos os participantes, não só pelas dificuldades enfrentadas mas, também, e principalmente, pelas recompensas colhidas. Foi um privilégio participar desta Jornada e desfrutar do convívio de cada um dos guias e amigos jornadeiros.

 Aos nossos guias Moreira Júnior, Yuri Jeanmonod, Leiliane Coelho, Marcos Santiago e Igor, não temos palavras para expressar a nossa gratidão e o nosso reconhecimento pela forma extremamente segura, zelosa e carinhosa como vocês conduziram o nosso grupo e nos orientaram em todos os momentos. Sem vocês nada disso teria sido possível. Ao Antonio, os parabéns pela grande força de vontade e pelo imenso esforço dispendido, os quais permitiram que ele se mantivesse com o grupo apesar das dificuldades enfrentadas. E deixamos aqui também registrado o nosso agradecimento ao nosso jeguinho, outro grande herói desta Jornada, que nos poupou de muita carga e facilitou de maneira considerável a nossa vida, tanto na subida quanto da descida.

sábado, 15 de abril de 2017

Do Quebra Facão ao Alto Bonito


Do Quebra Facão ao Alto Bonito, povoados do distrito de Tijuaçu, aqui você vai poder conferir a produção da turma de fotógrafos que invadiu estes lugares no último dia 19 de março durante a realização da 67ª Jornada Fotográfica. São retratos belíssimos, de crianças, adultos e idosos, além de cenas de um povoado e de uma cultura que se esforçam para preservar a sua história e tem orgulho de compartilhá-la com visitantes como nós. Bom proveito para todos!